17/10/2010

Carta a excelentíssima pasta de dentes.

(Fábula, por Luan Barbosa)
Cara amiga (assim me dou o direito de chamá-la, visto que com você já tenho intimidade desde pequena), não queria precisar ser tão formal e enviar-lhe uma carta de reclamação, mas visto as circunstancias do caso me sinto obrigada, tenho como única essa medida.
Há muito tempo, éramos só você e eu. A pasta e a escova que se completavam. Vivíamos harmoniosamente, apesar dos conflitos presentes, mas não de nossa exclusividade. Sempre fomos uma dupla implacável diante das sujeiras da vida, mas também sempre fomos humildes e recorríamos à ajuda de outrem, como o fio dental, para que a relação de limpeza fosse ainda maior.
Sempre te venerei, pois assim me foi ensinado e com o tempo percebi, por própria consciência, que tu reges tudo ao meu redor, é a força maior para meu êxito.
O que me incomoda, agora, é a chegada de uma parceira em nossas vidas. A princípio me pareceu conveniente ter a companhia de alguém, uma escova jovem, bonita, vistosa e eficiente. Logo me encantei por seus talentos. Pensei que pudéssemos ter uma boa relação, mas com o passar do tempo vi que estava me tornando coadjuvante e deixando que a outra assumisse o papel principal nos meus comandos.
Por me achar inferior, recolhi-me e mergulhei em profunda depressão bacteriana, que ia me consumindo e logo me resumiria em resto, ou inutilidade. Sei que nunca deixou de perceber minha existência, mas sinto que precisamos colocar os panos limpos na mesa.
Como um desabafo, perdoe-me minha alteração, mas quem aquela escova pensa que é pra manipular assim a minha vida? Ela é recém chegada e dei-lhe mais poderes do que deveria, mas é hora de cessar esse erro.
Você é o deus que ilumina minhas estradas, e é a ti que amo verdadeiramente. Então, peço-te, de compaixão, que juntos voltemos a nossa velha história e relação e que dispensemos a outra escova, que não mais se faz necessária. Tenho certeza que ela achará um lugar onde será bem-vinda e terá o seu reconhecimento, querendo ficar por lá.
Já lhe sou grata, cara amiga, pela atenção que me dás lendo esse desabafo. Sei que compreenderás as minhas angustias e atenderás o meu pedido. Verás que assim, conseguiremos provocar tantos sorrisos, como já fizemos diversas vezes.

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