14/08/2010

Voltando pra casa, o tempo falou.


É incrível como aquela velha frase ‘o tempo modifica tudo’ parece tão sinistra quando se para para refletir...
Voltando para casa de ônibus, como faço sempre, deixei meus ouvidos se entregarem à estórias alheias que são contadas dentro daquele ambiente móvel que percorre parte da cidade.
Como sempre, nada de interessante:
‘Fiz minhas unhas ontem amiga, mas não ficaram legais’
‘Eu estou tão cansado de trabalhar’
É curioso como a vida alheia atrai tanto, mesmo não sendo nada interessante.
Perto de chegar em casa, uns dois pontos antes de minha parada, adentrou àquele veículo uma senhora e duas meninas, que pareciam ter 4 e 6 anos. Chamaram-me a atenção pela simplicidade que transmitiam no próprio jeito de ser.
De repente, ouço algo que aguça mais ainda minha curiosidade. A menina mais nova, relata para sua avó como houvera sido o passeio que fizera ao museu da cidade, seus olhos brilhavam enquanto falava:
- “Ai vovó, tinha um lustre lá, brilhava tanto, era tão lindo, mais tão lindo que chega a pessoa tinha vontade de ser feliz”.
Após pronunciar a última palavra eu fiquei tocado, olhei para baixo e senti vergonha de mim mesmo.
Há quanto tempo algo tão sem graça, tão simples e tão normal quanto um lindo lustre não tocava o meu ser? Há muito tempo.
Percebi então que o tempo leva, muitas vezes, sentimentos que fizeram parte de nossas vidas, da infância principalmente.
Hoje, o tempo e a sociedade nos roubam toda nossa sensibilidade e capacidade de ser feliz com tão pouco. Não somos mais tão criativos para criar situações que nos façam felizes. Não rimos mais com besteiras, não achamos graça com coisas tão inúteis, para nós.
Levantei a cabeça e puxei aquela velha cordinha que grita        ‘eu vou descer motorista’. Desci do ônibus e pude ver aquelas menininhas espremendo a cara na janela para ver um cachorro que passava pela rua, todo molhado e que se sacudia. Elas riram, riram alto e me fizeram abrir um sorriso e pensar em voz alta:
- Como é bom ser criança!
Caminhei mais um pouco até chegar em casa e no caminho, revoltado, pensava em alguma coisa há fazer pra mudar isso, não podia ser tão insensível às coisas tão belas da vida.  Foi quando decidi que na próxima semana vou ao museu, ver aquele tão iluminado lustre...

 Por Luan Barbosa, 14/08/10

9 comentários:

  1. Que texto lindo! *-*
    Me emocionei com ele! Bateu uma saudade grande da infância! :]

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  2. Luan, meu lindo, mais um lindo texto! Palavras tocantes, português quase perfeito... E o melhor: entrou na faculdade de jornalismo! Espero que sejamos colegas de trabalho algum dia! Ou mais (6). HAHAHAHAHAHA. Abraços!

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  3. Belo texto! Penso nisso sempre, de como "ser criança" mudou.Me dói ver tantas crianças de 8 anos se preocupando mais com nomes de grifes, ao invés de brincar, de se encantarem com as coisas simples, seja um belo lustre, com a chuva ou em riscar um fósforo. O mundo gira, muda, evolui tão rápido, e ainda nos faz querer evoluir na mesma velocidade...aí meu amigo quando nos damos conta... o lustre já nem tá mais lá!
    Parabéns pelo texto! Quando eu puder vou ler tuas inquietações em forma de palavras!

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  4. Nós seres sempre insatisfeito com a vida,não damos o valor devido ao momento em que estamos vivendo...ai o tempo passa e lá se foi nossa linda e inesquesível infância!!Só restando velhas e boas lembraças...

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  5. Eita saudade da infância me deu agoraa...rs q história bonitaa, isso mostra q não precisa ser ou ter algo para ser feliz, a felicidade encontra-se nas coisas simples da vida....parabéns Luan, belo texto.

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  6. Belíssimo texto. Por isso tenho medo de ser gente grande. Tenho medo de esquecer o quanto coisas pequenas e simples podem nos fazer tão bem. E felizes!

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  7. É exatamente por isso que levo minha vida com uma política só: veja a felicidade das coisas simples e a grandeza das pequenas.
    Belo texto Luan.Parabéns!

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  8. Fatima Cunha

    nossa! seu relato me fez sentir...acho o q vc sentiu qdo ouviu a menina falar daquele lustre tão brilhoso........Parabéns!!

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  9. Luan, reparei que tinha tinha lido este texto em agosto do ano passado, e até comentado. Porém, mais uma vez digo que o texto ficou lindo. Emocionei-me de novo. Farei uma chamadinha no meu texto para este seu, são realmente similares. E vamos ao museu! ^.^

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