19/05/2010

A viagem

Lembro-me claramente daquele momento. Como se ele se prolongasse a cada dia passado, repetindo-se e intensificando-se.


Podia sentir o frescor das flores silvestres roladas num campo aberto, delicadas pétalas e rudes espinhos. A luz forte ofuscava-me os olhos, fazendo-me apertar as pálpebras num esforço contínuo. Aquele silêncio, que ouvira há tempos, fora rompido e fortes vozes invadiam o meu tímpano, chegando a perturbar e causar dor. O mar que me deliciava fora secado e rompera-se o meu berço, a qual balançava e dormia ouvindo aquele anjo cantar.

De repente tudo mudará, estava assustado e temi estar morto. Aquela minha paz acabara e agora me encontrava em um mundo de gigantes, mascarados, todos olhando para mim com uma expressão de preocupação e agonia. Não sabia onde estava, queria voltar... Não tive saída, chorei, chorei e chorei a procura de um carinho, um abrigo, uma proteção. Logo, mudaram-se as expressões e os gigantes agora sorriam e pareciam entusiasmados. O que houvera?

Do nada, me vi enrolado em um manto azul, lembrei-me logo daquele anjo em forma de mulher, que sempre protegera a mim e a tantos outros. Ela sempre vinha ao meu encontro abençoar-me. Acho que seu nome era Maria. Pensei estar em casa, acalmei-me e esperei acontecer.

As luzes continuavam fortes e me depuseram sobre uma espécie de caixa transparente, parecia estranha, mas ainda assim era confortável. Achei que ficaria ali até o fim. Mas, para minha surpresa, tiraram-me novamente do meu cantinho. – Aqueles seres tinham a repugnante mania de mexer com o que está quieto. Foi assim que criaram aquele cogumelo de fogo que destruiu tantos iguais a mim.

Colocaram-me sobre o alento de uma estranha criatura, que parecia chorar. Tive vontade de perguntar o porquê de ela estar chorando, mas tive meus pensamentos interrompidos ao ver um gigantesco sorriso abrir-se em seu rosto. Retribui o sorriso e ela se aconchegou em mim, me senti feliz, parecia minha antiga casa.

Depois de algum tempo pude entender algumas palavras balbuciadas por aquele ser:

- Bem vindo à vida, meu filho.

Daí então, tive a consciência que havia nascido, me tiraram de um mundo utópico e me puseram num lugar onde as pessoas competem entre si. Teria que lutar pelo direito de viver e não estava pronto para isso, mas sabia que aquela minha Maria estaria sempre comigo aonde quer que eu fosse...

4 comentários:

  1. Q textoo magníficoo, caraa fikeii curiosoo pra chegar logo no fim....viajeii na imaginação junto com o texto.

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  2. Perfeito,perfeito! *--*
    Adorei a história e também fiquei para chegar logo ao final!
    Muito criativo! ;D

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  3. Perfeita representação que descreve minunciosamente esse momento tão único e especial “o nascimento”. Não é apenas um momento, mas o primeiro passo que o ser humano executa, para iniciar sua jornada neste mundo tão confuso, surpreendente e ‘esmagador’, onde a rosa e o espinho se articulam e torna missão pro homem definir o ‘que’ escolher, ou seja, o que para ele é mais propício. Por meio do nascimento, entramos nesse mundo para realizar nossas ações, e destas dependerão o nosso futuro.

    Luan que texto liiiiiiiiiindo, você cada vez mais se supera. Continue assim meu amor! TE AMOO DEMAIS, melhor pré-jornalista do mundo, ushaushuashu !!

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  4. As coisas que você escreve são adoráveis.
    Ass: Admiradora ;*

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